Tuesday, May 24, 2005



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Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo da Realidade,
E quando digo «isto é real», mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visão qualquer fora e alheio a mim.

Ser real que dizer não estar dentro de mim.
Da minha pesssoas de dentro não tenho noção da realidade.
Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.

Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que a existência interior do dono da casa branca,
Creio mais no meuu corpo do que na minha alma,
Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realiade.
Podendo ser visto por outrso,
Podendo tocar em outros
Podendo sentar-se e estar de pé,
Mas a minha alma só pode ser defenida em termso de fora.
Existe para mim- nos momentos que julgo que efectivamente existe –
Por empréstimo da realidade exterior do Mundo.

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior, como tu, filosofo, dizes
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo de realidade?

Se é mais certo sentir
Do que existir a coisa que sinto-
Para que sinto
E para que essa coisa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-proprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coicidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.

E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas
Coisa por coisa, o mundo é mais certo.

Mas porque me interrogo, senão porque estou doente?

Nos dias certos, nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim,
Mas) tão sublimemente não meu.

Quando digo «é evidente», quero acaso dizer «só eu é que o vejo»?
Quando digo «é verdade», quero acaso dizer «é a minha opinião»?
Quando digo «ali está», quero acaso dizer «não esta ali»?
E se isto é assim na vida, porque será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro facto merece ao menos a precedência e o culto.
Sim, antes de sermos interiormente somos exteriormente.
Por isso somos exteriormente essencialmente.

Dizes, filosofo doente, filosofo enfim, que isto é materialismo.
Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma filosofia,
Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha,
E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?

“Alberto Caeiro”

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