Tuesday, June 21, 2005



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XLVII

Num dia excessivamente nítido,
Dia em que dava a vontade de ter trabalhado muito
Para nele não ter trabalhado nada,
Entrevi, como uma estrada por entre a s arvores,
O que talvez seja o Grande Segredo,
Aquele Grande Mistério de que os poetas falsos falam.

Vi que não há natureza,
Que a Natureza não existe,
Que há montes, vales, planícies,
Que há arvores, flores, ervas,
Que há rios e pedras, mas que não há um todo a que isso pertença,
Que um conjunto real e verdadeiro
È uma doença das nossa ideias.

A Natureza é partes sem um todo.
Isto é talvez o tal mistério de que falam.

Foi isto o que sem pensar nem parar,
Acertei que devia ser a verdade
Que todos andam a achar e que não acham,
E que só eu, porque a não fui achar, achei.

“Alberto Caeiro”

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